Em algum lugar

Enquanto  o relógio está lá, com os ponteiros a girar ,    bateu saudade... 
... do período em que estava concluindo o Ensino Médio.
Lembranças  que se gravam profundo na mente e não se esfumam com o tempo. 

 Éramos  todos muito unidos,  sempre com muitas brincadeiras e muito  assunto, mas havia um  
 que me impressionava, mesmo  sem desfrutar  de intimidade.
 
Eu via aquela mão fazendo escritos que pareciam livros. 

 Chegava sempre  sujo e faminto  e  sofria  com a arrogância preconceituosa de alguns colegas. 
Nem saía  para o intervalo. Preferia, à pedidos, ficar escrevendo poesias . 
Em troca,  ganhava seu lanche.  
Não era um aluno  assíduo e nunca sabíamos se iria voltar no dia seguinte...  

Dias se passaram sem que ninguém da escola soubessem de nada. 
Apenas achamos estranho o seu desaparecimento.
À ser reprovado por faltas , fui avisá - lo. 
Ele morava alguns quarteirões da escola e para chegar em sua casa, tinha que passar por um grande terreno baldio, tomado por um capinzal. 
Não onde morava exatamente, mas o seu entorno,  me pareceu uma região muito pobre e violenta. 

Tentei conversar e explicar o motivo de minha presença , mas ele não quis me ouvir. 
Infelizmente, a realidade dele era outra, mas ,  ainda haviam inúmeras possibilidades dele se salvar. 

Ele cuidava de sua mãe muito doente,  que, pouco tempo depois,  faleceu.  
E  o pouco dinheiro que recebia, fazendo uns serviços extras , usava para comprar drogas ...foi preso por tráfico!

Enquanto  o relógio está lá, com os ponteiros a girar,
bateu  realidade ...  
...aqui  na Penitenciária,  participando de um Workshop e Oficina de Criação Poética para presos, iniciativa da O.N.G Be Happy.

Em pé onde estava, segurava entre suas mãos, como se segura um pássaro sem asas , uma poesia numa folha de papel. 
Ele a olhava sorrindo. 
Sorriu para mim e me entregou: 

  " A imensidão do vivido
   Se fortalece.
   Vejo remoto o ontem           próximo.   
Sei que há tanto que           passou,
   Há tanto que virá...
   E que em algum momento,
   De algum lugar                 perdido.
   Na penumbra da            madrugada solitária,
   Encontrarei tudo que           eu perdi."  

Pergunta que o Google responde:  ➩ em 2009, mais de 86 mil pessoas estavam nas prisões por tráfico de entorpecentes e em  2012, cerca de 136 mil , sem contar que  , atualmente,quase 1.000 brasileiros estão presos por tráfico de drogas em outros países➩Infopen – Sistema Integrado de Informações Penitenciárias, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão do Ministério da Justiça, Brasil.

Pergunta que eu respondo: ➩ Repaginada, "... é uma ficção, Qualquer semelhança com fatos ou pessoas é uma mera coincidência..."Ou não!
Obrigado,
ℱelisberto N. Junior