Special Guest 2 , Ana Paula Amaral
Acabou o sal
Dei para sentir uma alegria festiva e silenciosa a cada vez que acaba o sal aqui em casa!
Eu estava adentrando na vida adulta quando ouvi pela primeira vez, dentro de um contexto, de um drama familiar, o ditado:
" Para se conhecer uma pessoa é preciso comer um saco de sal juntos".
Conversei e ouvi atentamente o senhor que estava indignado com a atitude de seu filho que anunciara a separação.
O casamento não havia completado seu primeiro ano e daí a indignação do pai e o seu discorrer sobre o saco de sal, que na verdade, é uma saca de sal de 60kg.
O que, claro, leva muito tempo para ser consumido.
Eu, talvez por desconhecer até aquele momento o significado da frase, acabei por adaptá-la para mim mesma!
Conviver é a palavra que bem descreve os pequenos saquinhos de sal que vamos comprando a dois, para uma família grande ou pequena.
E assim, a cada pitada, vamos temperando a convivência, o cotidiano que passa por fases tão felizes, dias difíceis, outros corriqueiros, até mesmo insossos.
Conviver é mesmo uma arte como a do bem temperar.
Por vezes erramos a mão, o equilíbrio se desfaz, mas é possível retomá-lo se todos estiverem dispostos a contribuir com sua pitadinha.
Dia desses, um vizinho bateu à nossa porta. Acabara de se mudar e não tinha sal.
Preenchemos uma pequena xícara de café e lhe entregamos. Abriu um sorriso o moço que ainda não divide seu saquinho de sal, mas ofereceu-nos a pipoca que fez.
E será que tem alguém que já salgou feijão?!
Ana Paula Amaral