Minha vida não foi só poesia, parte 1

... mudar de cidade é o tipo de coisa que pode ser o paraíso ou o inferno. 

A minha família saiu do interior do Paraná para a grande São Paulo, tentar a sorte. 
Chegada; vazia de sorte, cheia de percalços. 
Coisas da vida.

Meu pai logo conseguiu um emprego de vigilante  em um Supermercado. 
Lembro - me de minha mãe colocando feijão sem caldo  em sua  marmita e depois o vi saindo.
Nem tive o 'privilégio' de me despedir dele. 
Fui acordado de madrugada para ouvir  que, ao revidar uma tentativa de assalto, meu pai sofreu um ataque cardíaco e acabou falecendo.   
Não quero escrever muito sobre isso por ora. ... Também não quero pensar nisso. 
Mas o fato é que tudo ficou mais difícil . 

Cada um da família trabalhava naquilo que conseguia e  podia. 
De manhã, eu ajudava a minha mãe à vender revistas e gibis, sobras da banca de jornal que tínhamos na antiga cidade , em uma banca improvisada no chão e sob os olhares austeros dos feirantes com bancas oficiais. 
À tarde, ia trabalhar em uma Mercearia, próxima  à nossa casa alugada.
Trabalhar , entre aspas,  porque não tinha traquejo e nem idade para atender clientes , tampouco sabia abrir uma mísera  lata. 
Então, fui encarregado de ajudar as senhoras à levarem suas compras mais pesadas, em um carrinho de madeira com duas rodas, para assim ganhar alguns 'trocados'.

Só para ter uma ideia de minha idade: à época, eu tinha estudado os cinco anos  do Ciclo I do Ensino Fundamental e iria iniciar o Ciclo II. 
O ruim é  que queria continuar estudando e os dias iam passando e nada de conseguir a minha vaga.
O engraçado é que sempre ouvia dizer que todos tem direito à Educação. 
E não tem essa desculpa de "perdeu o prazo" ou "não tem vaga". 
Pelo menos é o que 'diz" a Lei de Diretrizes e Bases, escrita com base na Constituição brasileira. 
E mais: que poderia ser matriculado durante o ano todo. 
Mesmo quem mudou de cidade...
Não foi bem isto que aconteceu comigo ! 

Mas a sorte ajuda à quem trabalha e ao levar as compras de uma senhora, soube que ela era amiga de uma diretora de escola. 
Contei a minha história e logo consegui a minha vaga . 

Problema solucionado, surgiram outros. 
Como a dificuldade de adequar a minha [grade] ao currículo vigente, a conversão de Conceitos em Notas e a complementação da carga horária para adequação às novas matérias.
Inclusive, um fato curioso,  é que se já  tinha estudado inglês  e  era, portanto, um craque do verbo 'to be' , nunca tinha ouvido falar em língua francesa.
'Je ne savais rien'. Não sabia nada. 

E assim, segui , com muitos outros desafios neste momento de transição . 
Compreensível, afinal da mesma forma que levei anos para formar meus amigos na antiga cidade, tinha todo um processo para criar novos laços , de se enturmar em um ambiente novo e diferenciado...
( continua...) 

[Agradeço imensamente à quem queira deixar um comentário,  de forma espontânea, porém, contudo, entretanto, na realidade do momento, este blogueiro não  está retribuindo Visita/Leitura/Comentário.]
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