A filha do chefe

Eu sempre fui na contramão de meus amigos. 
Nunca tive vontade de ter um carro e sair dirigindo por aí. 
Morava em São Paulo, cidade complicada, congestionamento o dia todo e com o agravante que era - sou - um péssimo motorista, incompetente e que sempre iria correr ou ocasionar sérios riscos toda vez que desse a partida no motor de um carro.
E sempre foi do mesmo jeito . 

Porém, ironia do destino, a minha vida deu uma guinada  quando tive que dividir uma vaga de estacionamento. 
 Foi talvez algum tipo de sorte! 
Ou alguma intervenção divina! 
 Fui mais rápido e acabei ficando com a única vaga, o que deixou o outro motorista indignado , pois não consegui ignorar os impropérios. 
Percorri corpo, nariz, boca, pele, olhos e fui logo enxergando quem estava me ofendendo. 
A linda motorista aparentemente não percebeu que  já havia uma nova vaga para estacionar e que aprendi a ouvir desaforo e fingir que não era comigo, tanto que virei as costas e continuei a andar em direção ao trabalho. 

A caminhada interrompeu-se ao notar que ela também vinha na mesma direção. 
Lançou-me um olhar e seguiu direto para a mesa de meu chefe. 
Por alguns segundos meu chefe me encarou , como se conferisse o que se passava dentro de mim, em seguida meneou com a cabeça me indicando sinal de positivo. 

E assim foi o meu primeiro contato com a filha do chefe... 
...até hoje ela não se conforma de ter perdido a vaga para mim   e muito menos de lembrar que conseguiu ser menos hábil motorista  do que eu...

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Obrigado,